sexta-feira, 5 de abril de 2013

do insólito

Outro dia atendi um casal que queria ir ver um espectáculo infantil a Lisboa com os filhos. Entre o explicar os lugares, preços e afins, lá me perguntaram como é que iam para lá. Franzi um bocado o sobrolho, visto que eram um casal novo na casa dos trinta, mas lá lhes disse que podiam ir de comboio ou camioneta, ao que o marido perguntou ''e metro menina, não?''.
Ora bem, por esta altura eu não me contive e ri-me às gargalhadas: juro que pensei que era mais um daqueles clientes a gozar com a cara de quem os atende, armados em espertinhos, daqueles que quando o artigo não passa na caixa registadora diz coisas do tipo ''Esse é de borla!"'
Até que percebi que eles não sabiam mesmo. E por esta altura já estava eu à procura das câmaras dos apanhados de tv.
Meia incrédula lá expliquei que não, que para irem de transportes públicos tinha de ser de comboio ou camioneta. Volta outra pergunta surreal: '' e onde é que se apanha?'' Ora bem, se moramos no Porto, o mais fácil é apanhar comboios em Campanhã ou S. Bento. Camionetas há diversas companhias, mas eu como costumo ir pela Renex (que parte, entre outros sítios, da Cordoaria), foi essa que aconselhei.
Ouviram tudo pacientemente, a acenar com a cabeça como dois cachopos, até que o marido se vira para a mulher e diz: ''Campanhã? S.Bento? Sabes onde é?''
Eu sorri, ao perceber a parva que tinha sido porque ainda não me tinha apercebido, e perguntei: ''Os senhores não são de cá do Porto pois não? São de onde?'', na esperança de que me respondessem o nome de uma terriola qualquer que eu não soubesse identificar no mapa e que pudesse justificar todas as perguntas . Mas em vez disso levei como resposta uma chapada do tipo ''Somos cá de Matosinhos, mas não costumamos sair muito.''
Muito? MUITO?????
''Câmara do Porto?'' - tentei. - ''Aliados?''. Nada.
Explicando onde era o Hospital de St António lá lhes consegui dizer onde era a Cordoaria (e minutos depois o senhor já se lembrava que é por aquelas bandas que os estudantes fazem as serenatas) e explicar-lhes mais ou menos como faziam para ir de camioneta até à Gare do Oriente. Já só me  apetecia enrolar-me na minha manta e chorar, ou até mesmo pagar-lhes o comboio e ir com eles passear por Lisboa, para lhes mostrar outra coisa que não fosse o Mercado de Matosinhos, o Porto de Leixões ou Rotunda do Castelo do Queijo.
Ainda me perguntaram se sabia preços e quanto tempo demorava a viagem, entre mais outras perguntas às quais respondi, a tentar não fazer cara de parva. Agradeceram e disseram que iam decidir a vida deles e depois voltavam para comprar os bilhetes - e só me apetecia perguntar se eles sabiam voltar para casa..!



Resumindo: em pleno século XXI, um casal jovem que mora num dos principais municípios do distrito do Porto perguntou-me se dava para ir de metro até Lisboa.
E eu fiquei o resto da noite a olhar para o vazio, a pensar na sorte que tenho de ter pelo menos visto outros mundos que não este da rua onde vivo, e a pensar nas pessoas que morrem sem nunca terem visto o mar.
Ainda para mais porque antes de ir embora o senhor me disse que se calhar pelo preço da camioneta atestava o depósito e ia de carro!
Se virem um casal com dois putos perdidos na A1 no fim de semana de 5/6 de Abril , já sabem quem poderá ser.  :|

1 comentário: