quarta-feira, 4 de outubro de 2017

das modernices

ter quase 30 anos é do caraças.
chamem-me fatalista, mas para mim tudo o que seja depois dos 25 já implica uma dose de vida adulta superior à que eu consigo lidar.  é horários para tudo e tempo para nada, é ficar preso no trânsito e adormecer a ver um filme, é fazer listas de supermercado e marcar jantares com semanas de antecedência a ver se finalmente conseguimos reunir os amigos à volta de uma mesa.
por outro lado, é toda uma vida pouco real que nos passa pelas mãos e da qual não provamos o verdadeiro sabor.
esta nova geração, tão dependente de redes sociais e tão sozinha de afectos, que faz swipe para a direita no tinder mas não toma café com estranhos, que bebe batidos com spirulina e leite de amêndoa e faz encomendas na prozis e publica no instagram os 5km que correu à beira-mar no domingo passado, esta geração tão nossa, cada vez mais distante do que importa e mais sedenta de uma vida que não é a sua - esta nossa geração, tão sozinha, tão calada, tão vergada aos costumes modernos e ao que está supostamente in ou out, tão desligada da ficha e tão dependente de wifi como de ar para os pulmões.
às vezes panico ao pensar que deveria estar a fazer algo de mais importante com a minha vida - depois faço umas panquecas de aveia com framboesas, publico no instagram com um filtro favorável, saio para ir ao ginásio correr os meus 3km e faço mais uma publicação com o hashtag 'no pain no gain' e a sensação de inutilidade transforma-se num vazio semi-preenchido de inutilidades satisfatórias.
já disse que isto de ter quase 30 anos é do caraças?