quinta-feira, 11 de abril de 2013

da solteirice

Achei por bem, no seguimento do texto anterior, publicar aqui um texto antigo que tinha escrito para outro blog. (Incrível como não mudo uma linha, passados quase dois anos).

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Há quem diga que estar solteiro é das piores coisas de sempre.
Não há estabilidade, não há um ombro onde nos apoiarmos sempre, não há um olhar que sempre nos ampara as quedas. Em vez de jantares à luz das velas, há jantares com amigos à luz do alcool. Em vez de noite de mimos no sofá, há noite de filmes e pipocas - no caso das mulheres, há noite de comédias românticas com uma das amigas a queixar-se de que lhe roubaram a história da sua vida para o guião.
Mas de certeza que encontram muita gente que vos diga que estar solteiro é das melhores coisas de sempre. Não há horários, satisfações, imposições. Pensamos em nós, só em nós, sem ter de por momentos ponderar o que o outro sente, pensa ou quer. É o egoísmo levado ao extremo, mas por uma boa causa.
Depois há aquelas pessoas comprometidas que olham para os solteiros com pena - ou inveja, depende da interpretação. Porque os solteiros são solitários e só têm amigos de ocasião. Porque passeiam de bar em bar, de bebedeira em bebedeira, de cinema em cinema, de loja em loja, de cama em cama. Porque não têm regras, não têm sentimentos, não sabem amar - e por isso é que continuam solteiros, perpetuando o ciclo vicioso.
Estar solteiro não é das melhores nem das piores coisas do mundo. Estar solteiro é uma fase, que tanto pode ocorrer porque o mundo não nos vê ou porque nós não queremos ver o mundo. Ninguém escolhe estar solteiro - simplesmente acontece. Podemos ter sempre o discurso preparado, de que não queremos relacionamentos porque não sabemos o que queremos, de que não queremos relacionamentos porque não é o que precisamos no momento... Mas no fundo sabemos - porque uma das partes más de estar solteiro é que mentimos a nós próprios, por não termos mais a quem mentir - que estamos solteiros por força das circunstâncias. Porque não estamos emocionalmente disponíveis. Porque aquele de quem gostamos não está emocionalmente disponível. Porque não aprendemos ainda a equilibrar prioridades nem a ceder quando realmente é necessário. Porque cedemos demasiado e não recebemos de volta. E porque no fundo, apesar de toda a lamechice inerente a uma série norte americana de horário nobre, continuamos, indubitavelmente, fielmente, patéticamente... à espera do 'the one'.

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