domingo, 16 de junho de 2013

dos ossos do ofício

O atendimento ao público é um mundo.
Só quem está (esteve) na posição de vendedor/assistente/etc sabe que por trás de cada balcão existe,também, um consultório de medicina geral, de psiquiatria e sentimental. Há alturas até em que somos um balcão de informações, um ponto turistico. Ou somos filhas, irmãs, netas de alguém - tudo menos funcionários.
Das coisas mais bizarras que já me aconteceram, duas delas foram esta semana.

Uma delas foi, ao longo de uma conversa para elaborar um cartão de fidelização, a senhora - acompanhada pela filha de 18 anos a quem eu invejei a idade em tom de piada - ter iniciado o tópico de estar casada há 25 anos mas as relações já não serem como antigamente, ser tudo muito fácil de acabar, muito descartável. Tendo eu terminado uma relação de quase dois anos há menos de três meses, sorri e acenei como os pinguins do Madagáscar, enquanto continuava fixada no teclado do computador. mas a coisa não se ficou por aqui... Em cima dessa informação que eu não precisava de saber, seguiu-se o bónus de que o casamento da senhora já estivera na berlinda, tudo culpa de uma engatatona de 33 anos que só lhe queria o dinheiro do marido. E o desabafo continuava, que temos de estar atentas ao que é nosso, que os homens têm cabeça fraca  e os amigos só influenciam, que as mulheres hoje em dia ''deitam-se muito pra baixo'' e só procuram dinheiro em vez de amor... TUDO À FRENTE DA FILHA, que parecia mais um pinguim do que eu. Apressei a assinatura do contrato e fui salva pela fila de clientes que se lhe seguia. Ufa.

Outra situação aconteceu precisamente ontem. Uma criança de 4/5 anos vomitou enquanto o pai esperava na fila para pagar. Quando o pai se preparava para pagar os DVD's (tinha esperado tanto tempo, não ia desistir só porque o filho vomitou, right?) o puto vai e vomita outra vez. E mais outra. Até que lhe ofereci um lencinho e sugeri que o pai fosse pedir um copo de água ao café.  Ao que o pai, em vez de pedir desculpa, só comenta ''ele bem disse que estava mal disposto e eu ignorei''.
E depois veio o drama de cortes orçamentais e de não haver empregada da limpeza. E de o chão ser alcatifa. E o cheiro. E o jantar da criança espalhado em frente à caixa prioritária. Lá veio o responsável de loja com má cara por ter de esfregar o vomitado do filho dos outros, quando ele próprio não tem filho nenhum. Mas a coisa lá se resolveu e eu mudei para a caixa do lado.
Até que ao fecho de loja um colega, em tom de gozo, se recorda que, no ano passado, aconteceu comigo uma situação semelhante: uma bebé de um ano e pouco chorava, esbracejava, mas os pais (sentados comigo para, também eles, aderirem ao cartão de fidelização) ignoravam o possível motivo do sofrimento. A mãe ausentou-se para ir buscar um documento, o pai ficou a ver a criança esbracejar, até que pegou nela ao colo, mas ela esbracejava na mesma, pelo que voltou a pousá-la. Grande Erro.
Euzinha focada no teclado, sinto um cheiro nauseabundo e levanto a cabeça: camisa branca do papá coberta de diarreia de bebé. A fralda, de tão cheia, tinha transbordado. E a criança continuava a chorar. A mãe voltou, gozou com a cara do pai, levou a miúda para lhe mudar a fralda. E quando eu pensei que seria óbvio que o pai se ausentaria, ele saca de uma Dodot, esfrega o peito da camisa e diz, enquanto abana. ''isto seca, menina, não se preocupe!''.

É, não me preocupo. :|

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