Um bom romance deveria ser honesto.
Que o romance seja simples é pedir de mais
e é careta, pois todos sabemos que a simplicidade do antigamente implicava
desigualdade entre sexos e um "amor" fabricado à pressão por progenitores
gananciosos de dotes e rebanhos de netos. A simplicidade de outrora significava
também que o amor não era algo em que se pensasse muito; acontecia, pronto.
Pois caso contrário, os seus intervenientes facilmente descobririam que não
existia tal coisa como simplicidade no amor: não existia amor.
No que toca à honestidade, no entanto, não é bem assim. O
melhor amor é, de facto, o mais honesto, que vai desde o pecado carnal sem
pudores até ao desabafo, às lágrimas, ao saber respeitar a privacidade do outro
que faz xixi de porta fechada. O amor honesto é, sem dúvida o melhor de todos.
E por ser tão difícil de encontrar é que, por vezes, nos contentamos com um
amor menor, com mentirinhas piedosas pelo meio, com coisas nossas e coisas
dele, tudo em separado, tudo em segredo. Com cedências, com “fechar os olhos”. (Até que um dia…)
Por um amor ser honesto não significa que digamos tudo aquilo que nos apetece sem ter em conta os sentimentos do outro, nem significa que façamos tudo sem ter em consideração a outra pessoa. Significa, pois, ter em consideração todos os factores, sem invadir a privacidade do outro, e sem o deixar de fora da nossa vida.
De facto, cada um tem – ou deveria ter – o seu espaço. Cada
um tem o seu "eu" antes de se tornar um nós – até porque um ‘’nós’’ não
implica que deixe de existir um "eu". A beleza de coexistirem é,
precisamente, termos a capacidade de tornar o nosso amor menor num romance
honesto. Onde haverá sempre espaço para jogos, para conquistas, para fazer mais
e melhor. Onde há projectos em comum mas que dão espaço para que os sonhos de
cada um também aconteçam. Onde pensamos sempre no outro primeiro, mas nunca nos
esquecemos de nós. Onde poderemos sempre aprender com o outro e nunca
estagnarmos no caminho do amor. Mas onde nunca, por mais que nos custe perder,
permitiremos que um "nós" derrube todas as fronteiras do "eu", e nos
esqueçamos de quem éramos antes de aquele amor menor nos mudar. Porque quando o
amor vai embora, ficamos sem "nós" e sem "eu". E é bem mais fácil reconstruir
um castelo habitado do que um desabitado – ou onde já só moram fantasmas.
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