sexta-feira, 14 de junho de 2013

do amor honesto

Um bom romance deveria ser honesto. 
Que o romance seja simples é pedir de mais e é careta, pois todos sabemos que a simplicidade do antigamente implicava desigualdade entre sexos e um "amor" fabricado à pressão por progenitores gananciosos de dotes e rebanhos de netos. A simplicidade de outrora significava também que o amor não era algo em que se pensasse muito; acontecia, pronto. Pois caso contrário, os seus intervenientes facilmente descobririam que não existia tal coisa como simplicidade no amor: não existia amor.

No que toca à honestidade, no entanto, não é bem assim. O melhor amor é, de facto, o mais honesto, que vai desde o pecado carnal sem pudores até ao desabafo, às lágrimas, ao saber respeitar a privacidade do outro que faz xixi de porta fechada. O amor honesto é, sem dúvida o melhor de todos. E por ser tão difícil de encontrar é que, por vezes, nos contentamos com um amor menor, com mentirinhas piedosas pelo meio, com coisas nossas e coisas dele, tudo em separado, tudo em segredo. Com cedências, com “fechar os olhos”. (Até que um dia…)
Por um amor ser honesto não significa que digamos tudo aquilo que nos apetece sem ter em conta os sentimentos do outro, nem significa que façamos tudo sem ter em consideração a outra pessoa. Significa, pois, ter em consideração todos os factores, sem invadir a privacidade do outro, e sem o deixar de fora da nossa vida.
De facto, cada um tem – ou deveria ter – o seu espaço. Cada um tem o seu "eu" antes de se tornar um nós – até porque um ‘’nós’’ não implica que deixe de existir um "eu". A beleza de coexistirem é, precisamente, termos a capacidade de tornar o nosso amor menor num romance honesto. Onde haverá sempre espaço para jogos, para conquistas, para fazer mais e melhor. Onde há projectos em comum mas que dão espaço para que os sonhos de cada um também aconteçam. Onde pensamos sempre no outro primeiro, mas nunca nos esquecemos de nós. Onde poderemos sempre aprender com o outro e nunca estagnarmos no caminho do amor. Mas onde nunca, por mais que nos custe perder, permitiremos que um "nós" derrube todas as fronteiras do "eu", e nos esqueçamos de quem éramos antes de aquele amor menor nos mudar. Porque quando o amor vai embora, ficamos sem "nós" e sem "eu". E é bem mais fácil reconstruir um castelo habitado do que um desabitado – ou onde já só moram fantasmas.

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