quarta-feira, 12 de novembro de 2014

do país das maravilhas

Há alturas em que protegemos demasiado uma coisa por não a querermos danificar, como quando somos crianças e não emprestamos a nossa Barbie preferida com medo que outra miúda a possa deixar toda descabelada. 
Proteger algo não é de todo mau, se for feito com a melhor das intenções; o problema da protecção é que às vezes implica que se abdique de algo, em prol do que tentamos a todo o custo proteger. Como se a vida não acontecesse em pleno se não arriscarmos. Como se, a par da protecção, viesse o medo e consequentemente uma lista infindável de coisas que não fizemos por culpa dele.
Não querendo permitir assaltos, tenho muito medo. E mais medo ainda do que esse medo me possa roubar.
Não temo o que possa vir a doer, porque aprendi que não existem garantias nem estamos imunes e que ao virar da esquina podemos encontrar a pior das surpresas... Temo sim o que possa vir a perder.
Quando conhecemos o outro lado do espelho, quando entramos no País das Maravilhas, percebemos o quão aborrecido o mundo era antes de todo aquele brilho que desconhecíamos, qual música do Elton John, 'how wonderful life is now you're in the world'.
É por isso que o medo me faz querer proteger a todo o custo este país que descobri recentemente. Onde a coisa mais banal nos faz ganhar o dia. Onde nunca se adormece de pés frios. Ou chateado. Onde a ponta do meu nariz se transforma numa desculpa para ganhar um beijo. Onde cozinham para nós e juram a pés juntos que até somos boas cozinheiras. Onde há espaço para música de gangster e bom jazz, favaios em tascas ou um bom copo de vinho. Onde há gargalhadas e, tão bom, conversas. Onde não posso ter os meus cinco segundos de amuo sem ter um par de olhos-oceano a resmungar comigo. Onde uma dança na sala de estar se transforma numa das nossas melhores memórias. Onde sermos nós mesmos é requisito obrigatório e há sempre um sofá para descansar a alma. Onde acordamos com um sorriso, depois de ter adormecido a sorrir... para percebemos o quão difícil é voltar a dormir na nossa cama. Onde há planos em tom de brincadeira que nos fazem decidir emigrar de vez.
Há alturas em que protegemos demasiado uma coisa por não a querermos danificar, também para aprendermos, ao longo do caminho, que a vida tem de ser vivida apesar de todo o mal eminente que nela existe.
Pela primeira vez desde que me conheço como gente estou a proteger o meu país em vez de me proteger a mim mesma e juro que me sinto um soldado que se alistou para a guerra, de coração em riste. Será isto, afinal, o amor?


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