Eu sei que durante muito tempo eras só tu a olhares-me por entre os expositores e a vida a correr à minha frente e no nosso meio. E também sei que, durante muito muito tempo, foste só tu atrás de mim e eu a (não querer) fugir de ti, não a fugir, quer dizer, assim a modos que a fazer de conta que não te via para não ter realmente de fugir à descarada... e tu a não poderes ser mais evidente e a acabarmos os dois a sorrir entre relógios de ponto e boleias por aceitar.
Eu sei, acredita que sei, que a vida te tirou um tapete debaixo dos pés e quando deste conta eu estava lá em cima contigo, a ficar na mesma sem ter onde pôr os pés e a dizer-te que te dava algo que nunca me pediste, mas que me pareceu impossível não oferecer. Isto porque (e isto às vezes desconfio que tu não sabes) tu sempre me ofereceste tudo tudo tudo, sempre abriste todas as portas à minha passagem, todas as janelas para o sol entrar, sempre me tapaste quando ficou frio, me abraçaste quando tive medo, me beijaste os olhos por entre as lágrimas.
O problema foi termo-nos esquecido de que o tempo não pára por entre toda a magia que nos envolve, porque não há feitiço nenhum que combata o tempo. E ele passou tão rápido que nós fomos à boleia dos sonhos sem perceber que havia uma grande parte de realidade por resolver.
Mas acredita que eu sei que durante muito tempo eras só tu a querer-me, ao longe, devagarinho, e que assusta termos finalmente algo que sempre quisemos. Mais ainda assusta apercebermo-nos de que perder esse algo, que o tempo fez questão de construir tão depressa e tão sólido, tão intenso e verdadeiro, é como tirarem-nos novamente o tapete debaixo dos pés... e desta vez não termos ninguém lá connosco, na tijoleira gelada.
Eu nunca aceitei uma boleia tua porque me faltavam certezas. Hoje, sei que não há outro carro onde queira viajar senão naquele que tu conduzas, os dois deficientes a ouvir a tua playlist esquizofrénica, a tua mão na minha perna, o meu nariz no teu nariz.
Os teus sonhos, os meus sonhos, os nossos sonhos.
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