Há momentos em que me fazes sentir a mulher mais sortuda do mundo.
Como quando, por exemplo, me acordas com um sussurro e um beijo no cabelo, em jeito de lembrança de mais um dia que vai começar, lado-a-lado. Ou quando pousas ao de leve a mão na minha perna numa viagem de carro e fico a ver-te conduzir, sorrateira, com a certeza de me teres ali pra não me deixares fugir.
Nessas alturas não costumo dizer grande coisa. Talvez porque a vida me tenha ensinado a ver estes momentos como algo muito raro - como um daqueles eclipses que ocorrem a cada 50 anos e que são uma sorte de se presenciar - não consigo ter qualquer tipo de reacção quando me apercebo da sua existência. Principalmente porque ao longo do dia há mil e uma acções que executamos sem lhes prestar a mínima atenção... e só quando prestamos, quando estamos disponíveis e atentos, é que vemos a magia que nos envolve a cada segundo de estar vivos.
Por saber da magia que somos capazes é que trago agora o peito vazio e o rosto repleto de lágrimas.
Acredito fielmente que os seres humanos são capazes de se sentir mais sozinhos quando estão acompanhados do que quando estão literalmente sozinhos, se estar acompanhados significar apenas isso mesmo, e não uma coexistência em pleno.
E é tão sozinha que me sinto neste momento que fico sem ar e com raiva de pensar como fui capaz de permitir que o meu caminho me trouxesse novamente a este precipício.
Não preciso de ser salva, preciso somente de me aperceber mais e mais dessa magia que é ser a mulher mais sortuda do mundo, a tua.
Ou talvez - e isso é uma certeza que sempre me acompanhou, mas que escolhi pôr em pause por acreditar que um amor assim não nos visita muitas vezes - talvez a mulher mais sortuda do mundo seja, de facto, a minha.
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