terça-feira, 25 de agosto de 2015

dos finais felizes


Há um filme, daqueles de domingo à tarde que todos vemos em loop nalgum momento das nossas vidas, em que uma das personagens principais, feminista de gema, diz uma frase daquelas que parecem saídas dos mini livros com títulos como 'para a mãe' ou 'frases românticas' que encontramos na linha de caixas de um qualquer supermercado:
'Happy endings are just stories that haven't finished yet.'
A primeira vez que vi o filme era uma teenager angustiada com a injustiça de demasiadas borbulhas e zero namorados, por isso achei super maduro identificar-me à partida com uma frase proferida pela majestosa Angelina Jolie. Hoje esta frase veio-me novamente à cabeça porque uma amiga minha, recordando uma visita a Lisboa de há dois anos atrás e a que fizemos novamente este ano com o grupo de amigos, comentou algo como ''está a tornar-se hábito ir a Lisboa todos os anos em Agosto''.
No ano passado, apesar de não ter ido com nenhum dos amigos das visitas acima mencionadas, eu também fui a Lisboa, muitas vezes até. Uma delas, a que se enquadra nesta época do ano, decidi ir passear com os meus pais e mostrar-lhes algumas das coisas mais bonitas da capital.  Entretanto os meus pais acabaram por voltar e eu fiquei mais uns dias, com uma grande amiga que lá mora, a comer pastéis de Belém e a beber tudo o que o Bairro Alto tivesse para oferecer. Pelo meio desses dias, aconteceu uma discussão por telemóvel que levou à ruptura: pensei que talvez quiséssemos coisas diferentes, afinal, e que era melhor deixá-lo ir.
Chorei antes de adormecer, com a minha amiga a consolar-me, Acordei com uma chamada dele, a dizer que se tinha enfiado no carro, já estava a passar Sta Maria da Feira e que ia ter comigo - que não podia acabar assim. Ripostei, disse para voltar para trás, que falávamos quando eu voltasse para o Porto. Respondeu-me que, desde que eu estivesse disposta a recebê-lo em Lisboa e a falar com ele, que tinha a certeza de que era comigo que queria ficar. Desligou e apareceu-me, horas depois, à porta de casa da minha amiga.
Lisboa há-de sempre ser a nossa cidade, por muito que me custe agora sempre que tenho de lá voltar. A calçada portuguesa foi testemunha de demasiados momentos bonitos, de abraços, de promessas, de tantas tantas gargalhadas. Do Chiado-aoMarquês de Pombal-a Belém-ao Hard Rock-à Bela Vista, percorro aquelas ruas e recordo os dias que lá passamos os dois, mas penso especialmente naquela tarde em que ele me apareceu com um punhado de certezas, e de como aqueles 300km percorridos me fizeram pensar que teria finalmente o meu final feliz.
Se a minha vida fosse um filme e o realizador tivesse decidido cortar a história naquele momento, todos os expectadores acreditariam num 'e foram felizes para sempre'.
Tudo apontava para isso, não é verdade? Seria efectivamente um final feliz digno de Hollywood.
No filme Mr & Mrs Smith, de onde provém a frase, a Angelina acabou por morder a língua porque a personagem dela teve efectivamente um final feliz. Ou se calhar, uma vez mais e como aconteceu com a minha própria vida, a história ainda não tinha terminado.

I don't have a choice
but I'd still choose you.


Às vezes é mais fácil tirarmos o valor às coisas, torná-las supérfluas e rotineiras, para que doam menos quando formos privados delas. O mais difícil e honroso, no entanto, é conseguirmos sorrir ao pensar numa viagem de comboio de regresso a casa no colo do homem que amámos (o carro entretanto avariou-se no Pombal e voltou para o Porto de reboque enquanto ele teve de ir ter comigo até Lisboa de táxi, mas não nos percamos em pormenores cómicos, faxabor!) e conseguirmos perceber o quão sortudos fomos (somos) por ter a oportunidade de sentir.
Sentir ao máximo, sentir com cada poro. Sentir cada toque, cada olhar, cada sorriso.
Conseguir perceber a magia congelada de um momento em que nada mais importava do que aquele amor. Sem arrependimentos, sem mágoas. Eventualmente, sem dor.

Esse é o nosso final feliz, que recomeça a cada dia e que por isso mesmo não está dependente de nenhum corte do realizador: agradecermos a capacidade de amar e percebermos que, apesar das quedas, devemos sempre escolher sentir tudo em pleno e nunca deixarmos que a vida nos fuja por medo.
Afinal de contas, ainda temos algum poder em decidir a nossa vida:
podemos, pelo menos, decidir vivê-la.





[finalmente um texto escrito com toda a liberdade que este meu espaço sempre me proporcionou. 
como disse num post anterior: como é bom ter a minha vida de volta!]

2 comentários:

  1. Eu também costumo associar pessoas a lugares e a músicas, para mal dos meus pecados temo que o Porto, da Ribeira até à Foz em especial, tenha ficado irremediavelmente comprometidos!

    Parece-me que mais do que uma frase da "Angelina" é uma grande verdade.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É incrível como as memórias nos assolam por vezes, não é? Verdade ou não, fez muito sentido pra mim ontem e ajudou-me a tomar uma decisão. Uma boa semana :)

      Eliminar