segunda-feira, 30 de junho de 2014

do agora

há coisas na humanidade que nos continuam a surpreender, por muitos anos que passem.
no fundo é essa a beleza retorcida que nos mantém vivos - o não saber ou, por outro lado, saber que não controlamos apesar de julgarmos que sabemos.
esta incerteza, este medo constante é o que põe o sangue a fervilhar, o que nos faz tomar decisões por impulso, temendo não voltar a ter oportunidade. é o que nos faz dizer um ''sa foda'' , quando fazemos algo imprudente mas que nos sabe bem cumó caraças.
o que vier depois, logo se vê, logo se resolve... e é esse factor surpresa que, apesar de monstruosamente assustador, nos mantém vivos.
realmente vivos, não apenas a sobreviver.
aquele ''vivos'' de acordar de manhã com um sorriso no rosto porque babamos a almofada ao lado da pessoa de quem gostamos. aquele ''vivos'' de quem oferece um presente e vê alguém de quem gosta a sorrir  para um simples pedaço de carinho. aquele ''vivos'' de quem apanha um comboio com destino a uma amizade que está longe. aquele ''vivos'' de quem ouve os sobrinhos a dizerem o abecedário e se interroga para onde foi o tempo.
dizia-me um cliente no outro dia a sorrir, após uma pergunta básica sobre se queria descontar os pontos que tinha acumulados no cartão fidelidade, que essa pergunta tem apenas a resposta óbvia ''sim''. e porquê? porque isto pode tudo acabar, ele pode morrer, a loja pode ir à falência, o universo pode implodir, e naquele preciso momento a única certeza que ele tinha era a de que estava a comprar aqueles livros e, se tinha um desconto, só tinha mais era que o aproveitar. sorriu, agradeceu, e foi embora com um saco cheio de livros - com a certeza de um desconto e a incerteza de os chegar a ler a todos... não fosse o universo implodir no caminho até casa.



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