quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

dos devaneios às 3h da manhã

é preciso dormir até às 14h num dia qualquer de chuva, ressacado por uma noite com os melhores amigos do mundo e a pior música de sempre ainda a bombar nos nossos ouvidos.
é preciso uma tarde ao sol numa esplanada, a aproveitar o dia, depois de ter ido correr a meia maratona, visitado um museu ou lido um livro novo.
é preciso ficar no sofá a ver séries e comer gelado directamente do balde e depois fazer salada de rúcula para o jantar e dizer mal da nossa vida por não conseguimos fazer a balança descer.
é preciso rir muito e chorar ainda mais, para nos voltarmos a rir das vezes idiotas em que choramos por um desespero ainda mais idiota.
é preciso acertar as horas de sono e perder tempo a vaguear pelas memórias, sabendo que dali a 3horas temos de acordar com boa cara para enfrentar mais um dia,
é preciso ser dia e é preciso ser noite.
é preciso a família e os amigos e os colegas que aturamos por obrigação para depois termos alma para olhar um sem abrigo nos olhos e não virar a cara.
é preciso conhecer extremos e fazer tudo diferente daquilo que conhecemos de nós, vestir a roupa do avesso, arrancar a pele e ser cobra cuspideira por um dia, ser amarelo quando sabemos que só gostamos de cinzento -  ser outra coisa que não o nós que conhecemos e permitirmo-nos o risco de ser, quem sabe, diferente e melhor.
é preciso amar.
a nós mesmos, a cada manhã com mais uma ruga plantada entre a bochecha direita e o sorriso que já teve menos preocupações e bem mais certezas.
ao amigo que fez merda mas ligou humildemente a fazer de conta que nada tinha acontecido e nós escolhemos entender isso como um pedido de desculpa e seguir em frente.
ao cão que nos escolhe para ser a muralha da sua sesta no sofá, porque somos a melhor muralha do mundo.
à pessoa que nos faz esquecer que há pessoas de merda e que nos devolve tudo o que tínhamos perdido à conta de termos crescido e conhecido o que é a vida, madrasta - que nos dá uma galáxia quando antes só tínhamos o nosso planeta solitário.
é tanto preciso amar, se amar é viver!
viver um amor maior, um amor sufocante, um amor explosivo. um amor calmo. um amor apaziguante. um amor efervescente. daqueles que arranca sorrisos e que brota flores em vasos mortos e que pinta de azul turquesa um dia sem céu. daqueles que torna os silêncios confortáveis e a comida picante o suficiente para o nosso paladar sem sal. daqueles que aprende com o tempo que ficar é sempre a solução e que ir embora é para quem não gosta de verdade. daqueles que nos tira da cama porque as borboletas no estômago nos dizem que é urgente voar - e que nos fazem voltar à cama porque é o porto seguro dos amantes.
daqueles que não se esquece, porque nunca acaba - só quando um de nós acaba.

eu acredito num amor assim.
desses que é tudo e depois nos deixa tão pequeninos, engolidos na imensidão do desconhecido, a navegar com medo pelo incerto mas sempre reconfortados porque temos um mapa, uma bússula, alguém tão fiel àquele caminho como nós. e que perder seja o melhor que nos aconteça, juntos.
acredito, mesmo, num amor assim.
que é cumplicidade e é também aprender a aceitar que o outro não seja como nós. é saber dar espaço e não deixar sozinho, é saber tomar conta e reconhecer quando precisamos de ajuda. ser humilde para pedir desculpa e ainda mais para perdoar.
eu acredito, ainda, num amor assim.
que começa por uma casualidade e nos leva a querer partilhar a beleza da vida com alguém, porque partilhar é multiplicar e não há motivo algum para amar que não seja ser mais feliz!
e depois do fogo de artifício acabar, depois da loucura que é encontrarmos alguém para amar, depois...vem o conforto. e o silêncio que partilhamos sem medo que a outra pessoa nos veja como realmente somos, porque sabemos que também a estamos a ver como ela realmente é -  e é esse risco que é tudo.

e eu, do alto dos meus vinte e cinco anos. não faço a mínima ideia do que acabei de escrever.
porque de todos os amores que vivi, se foram tantos, não o foram em pleno como este amor que acredito que exista e que enfim seja um acrescentar de felicidade à minha, no singular.
está mais do que visto que não percebo patavina desta porra.








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