quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

das coisas da vida

Era muito bom se soubéssemos sempre o que queremos, mas isso só acontece em episódios da Anatomia de Grey, depois de a Meredith gabar pela 500ª vez o cabelo do Derek, e o universo das urgências do hospital lhes parecer a menor das suas preocupações.
Regra geral, o ser humano não faz a mais pequena ideia do que lhe apetece fazer com a sua vidinha miserável, muito menos quando tem de enfrentar uma decisão totalmente decisiva. Concentremo-nos no sexo feminino:  uma mulher já tem demasiados problemas em decidir o que vestir (drama que vai da roupa interior ao calçado, passando pelos acessórios e, no caso do inverno, casacão quente o suficiente), quanto mais em decidir se lhe apetece sair com o Francisco para tomar café ou se lhe apetece construir um futuro com o Marco António. Antigamente, as decisões estavam pré-tomadas; as mulheres sofriam antecipadamente por corações partidos e deixavam-se ficar presas a relacionamentos porque, na verdade, eram umas desocupadas. Hoje em dia uma mulher inteligente e independente assusta mais um homem do que uma mulher de mini saia; imaginem, então, o que uma mulher inteligente e independente pode fazer à cabeça de um homem se usar uma mini saia. Pois, é mesmo isso: as mulheres pensam, rapazes. E não se chama feminismo exacerbado, trata-se simplesmente de não cairmos no engodo de qualquer deficiente mental que elogie os nossos olhos ou sorriso ou, verdadeiramente, decote.
Voltemos ao tema central: a mulher contemporânea não faz a mais pequena ideia do que fazer com a sua vidinha miserável. Cada dia se revela uma nova batalha, e tudo se altera num piscar de olhos. Tão depressa aceitamos um convite para jantar como nos apercebemos que afinal o que nos apetece é uma noite de copos com amigos. Tão depressa nos sentimos cheias de realização pessoal, como acordamos a sentirmo-nos vazias. Tão depressa estamos a ter uma conversa equilibrada , como damos por nós a pensar que aquela pessoa só nos traz problemas e o que mais queremos é tira-la da nossa vida. Tão depressa começamos a escrever um texto supostamente irónico e engraçado, e acabamos a pensar em todos os problemas que quisemos evitar quando começamos a escrever.
As mulheres são complicadas – mas é por tentarem simplificar tudo, a maioria das vezes.
No fundo, o que vos irrita é que nós nos tornamos iguais a vocês em muitas coisas.
Não tentem perceber-nos, não vale a pena. Nem nós nos percebemos, e mesmo quando parecemos decididas, não o estamos. Mudamos de ideias mais vezes do que a lua muda de fases; e meus queridos, o tal meio termo, tão ingrato, é o que mais ansiamos encontrar, para depois percebermos que nunca resulta.
A mulher contemporânea nem sempre é uma cabra sem coração. A mulher contemporânea habituou-se tanto a estar sozinha – culpa vossa – que agora não quer abdicar de toda a segurança que construiu, e de tudo aquilo de que se rodeou ao longo dos tempos.
Conselho: não tentem observar-nos o comportamento para depois preverem o que vamos fazer a seguir. Dependendo dos apetites, um ‘não’ pronunciado por uma mulher tanto pode significar um sim disfarçado, como pode mesmo ser um não redondo. São coisas da vida.



(este texto é de 2011 e é inacreditável o quão descompensada eu já era com 20 anos ahahah)

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