terça-feira, 19 de maio de 2015

do querer mais da vida


abri ao calhas o 'Fragmentos de um Discurso Amoroso' e percebi (claro que não) o que é afinal isto das desilusões amorosas

'CATÁSTROFE-  Crise violenta no decurso da qual o sujeito, que sente a situação do amor como um impasse definitivo, uma armadilha de que nunca poderá sair, se vê condenado a uma destruição total de si próprio.'

querido Roland Barthes, lamento informar que isto das catástrofes tende a ser mais comum do que o amor em si, mas não pode jamais apelar à autodestruição.
apela, isso sim, à autoregeneração, ao encontro com o eu (já que o nós foi com as urtigas) e à procura incessante de uma paz que nos complete.
é tudo uma treta eu sei. arranjar forças para sair da cama de manhã já é, por si só, uma epopeia. e novamente só quem já se regenerou vezes demais pode compreender o quão exaustivo é combater a ideia 'a sério que isto me aconteceu outra vez?'.

às vezes penso que nasci programada com um negativismo que corrompe à partida toda e qualquer hipótese de felicidade.
depois passa-me pela mente que a culpa é da Disney, do Shakespeare e da Jane Austen, de todos os amores épicos que nunca vi acontecerem comigo e que por isso aniquilo mal me desiludem.
momentaneamente, deixo-me preencher pela ideia de que nós - e só nós - é que sabemos o que nos completa e que encontrar o amor é encontrar quem perceba isso também sem termos de lhe explicar. não me interpretem mal, eu acredito que o amor dá muito trabalho. não acredito é que possa ser encarado como um esforço. como um frete. como um afazer.
porque para picar o ponto já basta um emprego (e todos sabemos o quão comum é trabalharmos no que não gostamos, quanto mais ter de fazer do amor um trabalho também) e quero mais da vida do que ter (e ser) uma muleta para não viver sozinha.
e isso, o querer algo com muita força, o querer mesmo, não faz de mim egoísta ou imatura ou mimada ou até mesmo conflituosa. recuso-me é a ter de pedir algo que é meu por direito e que sempre (mas sempre) dei, sem pensar que teria de o pedir em troca.
quero mais da vida, ponto. e cansei-me de ter de o explicar.




I wasn't looking when we built these walls
Let me spread my dreams at your feet
Let’s not let time’s bitter flood rise
Before my thoughts begin to run

I think I'm getting older now
...



3 comentários:

  1. Quem não quer?! Sorrizo sim? Sorrizo para a vida porque primeiro fartamo-nos, depois cansamo-nos desse estado e decidimos abdicar dessa parte da vida, concentramo-nos nos amigos e no que temos e sabes, normalmente é aí que aparece aquele grande amor...

    ;)

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    1. claro que sim, o segredo está em sorrir sempre :)

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