quarta-feira, 8 de março de 2017

dos regressos aos poemas

travo a baunilha e enrolo a lingua

sinto-te nas ausências de tudo o que persiste
em lembrar-me do silêncio
no ranger do soalho
na brisa rente ao ouvido
na calmaria da madrugada
que te entrega à minha porta.

matei-te faz já tanto tempo.

sobraram as gaivotas
de asas rentes no rio
levando e trazendo o Douro
pelos traços da cidade
para me lembrar do porquê de termos existido

já não sei sequer porque te matei
se podia simplesmente
não ter voltado nunca mais

desenrolo a língua e a baunilha regressa

(são quatro da tarde de um dia solarengo
está frio, mas não o suficiente para beber o chá
a que tento forçar-me)
perdi já conta das horas
dos traços
dos segredos
fujo tanto desta cidade por me sentir sua refém
e tu dono dela
que regresso sempre cheia de memórias
mas nunca vazia de ti.

a única certeza
que sempre carreguei
foi a de que nada nos pertence
como ponteiros destravados
de um qualquer relógio ansioso

que farei
quando as horas insistirem em passar
e eu continuar a temer?


08.03.2017
MMS

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