sinto-te nas ausências de tudo o que persiste
em lembrar-me do silêncio
no ranger do soalho
na brisa rente ao ouvido
na calmaria da madrugada
que te entrega à minha porta.
matei-te faz já tanto tempo.
sobraram as gaivotas
de asas rentes no rio
levando e trazendo o Douro
pelos traços da cidade
para me lembrar do porquê de termos existido
já não sei sequer porque te matei
se podia simplesmente
não ter voltado nunca mais
desenrolo a língua e a baunilha regressa
(são quatro da tarde de um dia solarengo
está frio, mas não o suficiente para beber o chá
a que tento forçar-me)
perdi já conta das horas
dos traços
dos segredos
fujo tanto desta cidade por me sentir sua refém
e tu dono dela
que regresso sempre cheia de memórias
mas nunca vazia de ti.
a única certeza
que sempre carreguei
foi a de que nada nos pertence
como ponteiros destravados
de um qualquer relógio ansioso
que farei
quando as horas insistirem em passar
e eu continuar a temer?
08.03.2017
MMS
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