domingo, 19 de outubro de 2014

dos tipos de mulheres

Todas nós, mulheres, em alguma altura da nossa vida, demos por nós a usar a expressão 'não sou desse tipo de mulheres', como se excluirmo-nos de uma categoria (e consequentemente incluirmo-nos noutra) pudesse de facto categorizar-nos em algo superior do que realmente os outros acham que somos.
Pois bem, minhas queridas, não pode. Muitas vezes dei por mim a dizer que não compreendo o tipo de mulheres que faz isto ou aquilo, como se ter um 'like' numa página de fãs da casa dos segredos ou partilhar citações infelizes- daquelas que afirmam ser da autoria de Fernando Pessoa e que depois de alguma pesquisa percebemos que a internet é uma sacana e afinal foi a mãe do CR7 que a proferiu numa qualquer entrevista para Lux - nos pudessem definir a 100%.
Todos temos telhados de vidro, esqueletos no armário, poeira varrida para debaixo do tapete.
Há sempre uma parte de nós que nunca confessamos a ninguém e uma outra parte da qual fazemos propaganda, qual expressão que mais utilizamos para posar para uma fotografia, como se fosse esse o nosso melhor.

Se de facto puder incluir-me nalgum tipo de mulher neste momento, sou do tipo que foi à Disneyland com 22 anos e chorou ao ver o Mickey, que sabe as músicas da Disney todas de cor e que ainda vai ao cinema ver os filmes e tem carteiras estampadas com a Sininho.
Sou do tipo de mulheres que prefere um bom bolo de chocolate a um iogurte com linhaça, mas que reconhece que a segunda opção é que deveria ser remetida para mulheres de porte generoso como moi même, pelo que de vez em quando a tenho em consideração.
Sou do tipo de mulheres que prefere ter os pés aquecidos a dormir com meias, mas que de igual modo ainda dorme numa cama de solteiro e gosta muito de ver todos os seus tarecos no seu devido lugar, sem trapalhices masculinas pelos cantos.
Sou do tipo de mulheres que fica contente com o sucesso dos outros sem sentir inveja, porque sou espicaçada pela felicidade alheia como combustível para a minha própria felicidade, ou pelo menos assim tento.
Sou do tipo de mulheres com muitos inimigos, e com tão poucos amigos que os conheço a todos de cor e ainda me deixo surpreender por cada um a cada dia - e essa é a minha verdadeira vitória.
Sou do tipo de mulheres que adora viajar e planear cada detalhe, ouvir música enquanto caminho pelas ruas, dormir 12horas ou ficar enroscada em mantas a ver um filme com o portátil no colo, cozinhar sobremesas calóricas e plantar sorrisos quando ofereço presentes.
Sou do tipo de mulheres teimosas que não sabe o que quer, que encontra sempre defeitos ou partes que mudaria, mas que é tão fácil de convencer e de se deixar render a uma nova ideia (se me souberem apelar ao coração).
No fundo, gasto 80€ num bilhete para Michael Bublé e provavelmente encontrar-me iam a torcer o nariz se falassemos em gastar o mesmo valor num par de sapatos: sou do tipo de mulheres que vive pela experiência, que põe os sentimentos sempre em primeiro lugar (sejam bons, sejam maus) e que não consegue compreender meios termos, coisas mornas, comida sem sal.
Sou do tipo de mulher que ou se ama ou se odeia - como dizem os que me conhecem bem, às vezes sou Mary, outras Mariana Silva. E só quem consegue conviver com ambos os lados (ainda que eu própria prefira a Mary também), pode de facto perceber o porquê de ser muito díficil excluir-me ou incluir-me em qualquer categoria que seja - afinal, todos os dias acordo a desejar ser outro tipo de mulher. E é isso que nos faz, enquanto seres humanos, continuar a respirar e seguir em frente.





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